Poluição 

Considera-se que o ar está poluído quando as características naturais da atmosfera são alteradas por agentes químicos, físicos ou biológicos, principalmente originados por atividade humana e em menor proporção por eventos naturais. Os principais poluentes que prejudicam a saúde humana são material particulado, gases como ozônio, dióxido de nitrogênio, monóxido de carbono e dióxido de enxofre e compostos orgânicos voláteis, como aldeídos e hidrocarbonetos aromáticos.

O que sabemos sobre os efeitos da poluição do ar

A poluição do ar é nociva à saúde de todos, mas especialmente às pessoas mais suscetíveis como idosos, gestantes, crianças e bebês e/ou que possuem doenças crônicas, como asma, bronquite crônica e/ou enfisema pulmonar (doença pulmonar obstrutiva crônica- DPOC), fibrose pulmonar, transplantados de pulmão, diabetes, hipertensão, doença coronariana, insuficiência cardíaca, entre outras. Estudo recente estimou que, em 2019, a poluição do ar foi responsável por 6,67 milhões de mortes em todo o mundo, sendo o 4ª fator de risco para óbitos globais.

A exposição a poluentes pode ocorrer de forma aguda, ou seja, por variações diárias de poluentes, ou de forma crônica, ao longo dos anos, como acontece com quem nasce e/ou vive na maioria das médias e grandes cidades. A exposição aguda está associada às exacerbações ou aos agravamentos de doenças pré-existentes (hipertensão, arritmia, DPOC, diabetes) ou à ocorrência de manifestações agudas como irritações nas vias aéreas superiores (rinite, alterações na voz) e inferiores (chiado, tosse e maior risco de infecções respiratórias). A exposição crônica à poluição aumenta o risco de ocorrência de doenças cardiorrespiratórias, neurológicas, metabólicas (diabetes) e de câncer de pulmão.

Poluentes Principais Fontes geradoras

      Limites de Tolerância

       Brasil*                  OMS#

Poluentes primários
Material Particulado (MP=PM- µg/m³) Emissão de veículos automotores, indústrias, queima de biomassa, termoelétricas

PM10 (M24hs2):150

PM10 (MAA): 50

PM10 (M24hs2): 15

PM10 (MAA): 05

PM2,5 (M24hs2): 15

PM2,5 (MAA): 05

Dióxido de enxofre (SO2- µg/m³) Indústrias, usinas termoelétricas, veículos automotores- queima de carvão e óleos

SO2 (M24hs2): 365

SO2 (MAA): 80

SO2 (M24hs2): 40

SO2(M10min3):500

   Dióxido de nitrogênio (NO2- µg/m³) Veículos automotores, usinas termoelétricas, indústrias- combustão a elevadas temperaturas

NO2 (M1h3): 320

NO2 (MAA): 100

NO2 (M24hs2): 25

NO2 (MAA): 10

NO2  (M1h5):200

Monóxido de carbono (CO-ppm) Combustão incompleta de óleo, gás natural, gasolina, carvão mineral, queima de biomassa. CO (M1h2): 35 CO (M8hs): 8

CO (M24h2): 04

CO (M8hs6): 10

CO (M1h5): 35

CO(M15min4): 100 

Compostos orgânicos voláteis- COV Emissão veicular, queima de biomassa - Vapores de hidrocarbonetos (aldeídos, cetonas) Não estabelecido Não estabelecido
Poluentes secundários
Ozônio (O3- µg/m³) Formado a partir da reação entre a luz solar e óxidos de nitrogênio e COV O3 (M1h5): 160

O3 (MAT): 60

O3 (M8hs6): 100

Material Particulado (MP µg/m³) Formado a partir de reações fotoquímicas envolvendo gases como o NO e SO2

PM10 (M24hs2):150

PM10 (MAA): 50

PM10 (M24hs2): 15

PM10 (MAA): 05

PM2,5 (M24hs2): 15

PM2,5 (MAA): 45

 

Tabela 1:Apresentados os principais poluentes, fontes geradoras e valores/concentrações consideradas máximas permitidas/limites, recomendados pela OMS (2021) e pela legislação em vigor no Brasil (No03/90 -CONAMA)

Nota: *Resolução CONAMA No03/90; #Organização Mundial da Saúde 2021; MAA: média aritmética anual; M: média; MAT (Média Alta temporada): Média da concentração diária máxima de O3 aferida em 8 horas, em seis meses consecutivos com a maior concentração média de O3; ppm: parte por milhão; 2 M24h: Não deve ser excedido mais do que 03 a 04 vezes por ano; 3M10min: maior média diária de 10min; 4M15min: maior média diária de 15min;5M1h: maior média diária de 1 hora; 6M8hs: maior média diária de 8 horas.

Os limites preconizados pela OMS, mais restritivos, foram baseados em estudos mais atuais evidenciando que mesmo baixas concentrações de poluentes têm impacto na saúde.

As fontes que geram poluentes que têm impacto na saúde humana também podem gerar poluentes como o CO2 e metano, que são gases de efeito estufa, ou seja, absorvem radiação solar e aquecem a superfície da Terra, derretem geleiras e aumentam o nível e temperatura dos mares, o que tem levado ao chamado Aquecimento Global, cujo impacto tem sido estudado nos últimos 30 anos e é associado ao aumento de eventos extremos como ondas de calor, seca, furacões, tempestades, inundações (ver Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas¹).

A poluição do ar é dividida conforme suas fontes e ambientes em:

1) Poluição do ar em ambientes externos ou abertos (poluição outdoor): As principais fontes geradoras são a queima de combustíveis por veículos automotivos, geração de energia, atividades industriais e queima de biomassa (pastos, plantações e florestas). Alguns poluentes são produzidos de forma indireta (reações fotoquímicas entre poluentes), como o ozônio, os compostos orgânicos voláteis e parte do material particulado.

2) Poluição do ar em locais/ambientes fechados (poluição indoor): a poluição em locais internos pode ser gerada por várias fontes, como: aquecedores, lareiras, fogões a gás e a lenha, materiais de construção, produtos liberados de mobílias (solventes, colas), produtos de limpeza, sistemas de ventilação sujos e fumaça da queima de tabaco (cigarro, charuto, narguilé). Além disso, a poluição do ar outdoor também pode contribuir com a poluição indoor a depender das janelas e de sistemas de filtragem do ar.

Nas tabelas 2 e 3 que seguem são resumidos os principais efeitos da poluição do ar:

Tabela 2. Poluição do Ar e Efeitos Respiratórios: Evidências atuais

Efeitos associados a exposições agudas*
  • Aumento da mortalidade por doenças respiratórias
  • Exacerbação dos sintomas em indivíduos com DPOC e asma
  • Aumento da incidência por infecções respiratórias
  • Aumento do número de internações e de óbitos por pneumonia
  • Aumento da prevalência de sintomas e sinais de irritação nos olhos, narinas e garganta
  • Aumento da prevalência de sintomas respiratórios agudos (sibilância, tosse, expectoração)
  • Necessidade de aumentar a dose o de uso de medicamentos
  • Alterações agudas e reversíveis na função pulmonar
  • Aumento do número de consultas médicas, de atendimento de emergência, de internação e da mortalidade por doenças respiratórias
  • Maior taxa de absenteísmo no trabalho e escolar
Efeitos associados à exposição crônica**
  • Aumento da mortalidade por doenças respiratórias
  • Aumento da incidência e prevalência de asma e DPOC
  • Aumento da incidência e mortalidade por câncer de pulmão
  • Aumento da incidência e de mortalidade por pneumonia e influenza
  • Alterações crônicas na função pulmonar

   1. Redução crônica do VEF1 e CVF

   2. Menor desenvolvimento pulmonar em crianças e jovens

   3. Aumento da prevalência de pessoas com VEF1 abaixo da normalidade

         4. Aumento na taxa de declínio do VEF1

 

Tabela 3. Poluição do Ar e Efeitos Cardiovasculares: Evidências atuais

Principais efeitos associados a exposições agudas (variação da concentração de poluentes induzem efeitos que se manifestam após horas ou dias)
  • Aumento de eventos e da morbidade por doenças cardiovasculares (isquemia miocárdica, arritmias, insuficiência cardíaca e doença cerebrovascular) após horas de exposição
  • Redução da variabilidade da frequência cardíaca associada à arritmia e morte súbita
  • Aumento da coagulação sanguínea predispondo eventos tromboembólicos
  • Aumento de marcadores de inflamatórios no sangue associados ao risco cardiovascular
  • Disfunção da camada endotelial dos vasos sanguíneos
  • Aumento da pressão arterial
  • Aumento do risco de doença trombose venosa
  • O risco de eventos e de mortalidade cardiovascular atinge principalmente pessoas suscetíveis (idosos, com doença coronariana prévia, diabéticos, obesos e o sexo feminino também parece apresentar maior risco)
  • Não existe um limite seguro de exposição a MP para risco cardiovascular
Principais efeitos associados à exposição crônica (variações em anos)
  • Aumento do risco da incidência e mortalidade por doenças cardiovasculares com maior magnitude que o observado nas exposições e efeitos agudos
  • Aumento da incidência e progressão de aterosclerose
  • Aumento do risco de trombose venosa profunda
  • Alteração do endotélio dos vasos e da coagulação
  • Aumento do risco de isquemia miocárdica, de insuficiência cardíaca, de hipertensão arterial e diabetes
  • Após poucos anos de redução dos níveis de exposição a MP diminui o risco de mortalidade cardiovascular
  • Parece não existir um limite seguro de exposição a MP para risco cardiovascular

 

 

Figura 1. Representação das doenças e alterações associadas à poluição do ar. (Ubiratan de Paula Santos, Marcos Abdo Arbex, Alfésio Luis Ferreira Braga,et al. Poluição do ar ambiental: efeitos respiratórios, J Bras Pneumol. 2021; vol:47 pgs,1-13) Referência:¹Melinda M.B. Tignor, Hans-Otto Pörtner, Debra C. Roberts, et al. Climate Change 2022 Impacts, Adaptation and Vulnerability.INTERGOVERNMENTAL PANEL ON Climate Change IPCC WGII Sixth Assessment Report 2022.pgs ,1-40.

O que é poluição

É melhor se exercitar mesmo que em locais poluídos do que sucumbir ao sedentarismo. Alguns indivíduos, no entanto, devem redobrar os cuidados para não se exporem a essa combinação que, para eles, funciona como uma bomba. Saiba mais.

Atividade Física e Poluição

Quem pratica exercícios em avenidas de regiões poluídas de São Paulo sempre se pergunta se realmente está fazendo a melhor coisa para a sua saúde. Veja aqui o que a ciência diz a respeito desse assunto. Saiba mais.

Dúvidas e Orientações

Não dá para limpar o ar de São Paulo inteira para, aí então, começar a fazer o seu exercício ao ar livre. Mas sempre dá para tomar algumas precauções fundamentais, como estudar bem a rota do percurso de sua atividade física, antes de iniciá-la. Leia mais.