Efeito protetor do vinho no coração

A aterosclerose é uma doença inflamatória, cujo primeiro estágio é a disfunção endotelial. Os principais fatores desencadeantes da disfunção endotelial são: LDL elevado, radicais livres formados pelo tabagismo, diabete melito, hipertensão arterial, alterações genéticas, homocisteína elevada e infecções por Chlamydia pneumoniae e herpes virus. As células endoteliais lesadas aumentam a permeabilidade às lipoproteínas e expressam em sua superfície moléculas de adesão, que ao atrair os monócitos, permite a adesão destes ao endotélio. Os monócitos ao penetrarem no tecido subendotelial adquirem características específicas de macrófagos, sendo capazes de fagocitar as LDL e LDL oxidadas, originando as células espumosas. Os macrófagos, transformados em células espumosas, quando ativados induzem a liberação de citocinas, tais como: interleucina-1 (IL-1), fator de necrose tumoral (TNF-a ), citocinas e fatores de crescimento derivados das plaquetas (PDGF), que podem ter impacto importante no desenvolvimento da aterosclerose, por estimular a atividade fibroproliferativa.

O consumo moderado de vinho tinto está associado com redução da mortalidade e das hospitalizações por Doença Arterial Coronária (DAC). Em relação ao perfil lipídico, o álcool apresenta dois efeitos bem estabelecidos: (1) aumenta o HDL colesterol, por causa do aumento de suas sub-frações HDL2, HDL3 e das apolipoproteínas A-1 e apo A-2; (2) eleva os níveis de triglicérides, devendo ser evitado em portadores de diabete melito e de hipertrigliceridemia. A ingesta moderada de álcool (uma a duas doses) promove elevação de aproximadamente 12% nos níveis de HDL colesterol, semelhante à encontrada com a prática de exercícios. No sistema de coagulação, o álcool atua inibindo a agregação plaquetária, elevando o ativador de plasminogênio e reduzindo as concentrações de fibrinogênio. A maioria dos efeitos protetores do vinho tinto na aterosclerose são atribuídos aos flavanóides, que possuem propriedades antioxidantes, vasodilatadoras e anti-agregante plaquetária. Duffy at al mostraram que o consumo moderado de flavanóides reverte à disfunção endotelial em pacientes portadores de DAC (Circulation 2001; 104:151).

A proposta do efeito protetor do vinho tinto deve ser bem considerada, mas não devemos esquecer dos seus efeitos adversos: alcoolismo, distúrbios de comportamento, síndrome fetal alcoólica, acidente vascular cerebral hemorrágico, hipertensão arterial, arritmia, miocardiopatia e morte súbita. Estudos têm mostrado que o consumo de álcool superior a 20 gramas por dia é responsável pelo aumento na incidência de hipertensão arterial; sendo a hipertensão arterial é uma das patologias cardiovasculares mais freqüente na população em geral e um dos fatores de risco para aterosclerose o uso do vinho neste grupo deve ser avaliado mais criteriosamente.

No Instituto do Coração (InCor-HC/FMUSP) o Prof. Dr. Protásio Lemos da Luz coordena e orienta profissionais que estudam o efeito protetor do vinho e do suco de uva na aterosclerose. Esses investigadores observaram que tanto vinho tinto quanto suco de uva protegem contra a formação de placas ateroscleróticas em coelhos. Em pacientes com níveis elevados de colesterol no sangue, vinho e suco de uva têm efeito vasodilatador.


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