Anticoagulação em Idosos
Não devemos anticoagular pacientes portadores de fibrilação atrial com mais de 75 anos. Esta afirmativa não é sempre verdadeira. No Instituto do Coração (InCor-HC.FMUSP) a Unidade Clínica de Cardiogeriatria, coordenada pelo Prof. Dr. Maurício Wajngarten, tem grande experiência em anti-coagular este grupo de pacientes.
No ambulatório da Unidade Clínica de Cardiogeriatria atualmente 381 pacientes estão cadastrados para anticoagulação e acompanhamento mensal, sendo que menos de 20 destes pacientes não têm controle evolutivo regular. As co-morbidades mais freqüentemente associadas são: HAS (49,5%), IC (38%), AVC (19%), DM (11,4%) e AIT (4,7%); e as complicações mais encontradas são os pequenos sangramentos tais como hematomas, epistaxe, gengivorragias, sangramento conjuntival e hematúria.
Os critérios de inclusão para anticoagulação nesta população são:
- Aumento do átrio esquerdo (AE)
- Disfunção do ventrículo esquerdo (VE)
- Diabetes Mellitus (DM)
- Insuficiência cardíaca (IC)
- Acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI) prévio
- Hipertensão arterial sistêmica (HAS) controlada
- Ataque isquêmico transitório (AIT).
E os critérios de exclusão são:
- Sangramentos gastrintestinais e geniturinários
- Síncopes e quedas repetidas
- HAS não controlada
- Alcoolismo
- Disfunção hepática
- Fatores sócio-econômicos
- Doenças psiquiátricas.
No InCor 27% dos pacientes idosos anticoagulados tiveram que interromper o tratamento, sendo as causas mais freqüentes (1) controle irregular do INR; (2) sangramento; (3) não aderência; (4) interação medicamentosa; (5) quedas; (6) síncope; e (7) alcoolismo.
Em uma revisão sistemática do tratamento com anticoagulação em longo prazo ou anti-plaquetários em portadores de fibrilação atrial não reumática, Taylor et al analisaram cinco estudos randomizados e observaram que os eventos anuais variavam entre 1,7 e 10,6% mostrando uma heterogeneidade muito grande entre os riscos dos pacientes nos diferentes estudos. Nos estudos foram incluídos também pacientes com história de infarto do miocárdio (IM), AIT, AVC e IC. A metodologia dos estudos é criticável por terem um número pequeno de pacientes, dois deles foram interrompidos precocemente e o desenho dos mesmos tendem a serem favoráveis ao uso de anticoagulação. Apenas um dos estudos mostrou resultado favorável ao uso de anticoagulação, os demais mostraram resultados similares as duas drogas. O risco de sangramento esta relacionado com o controle adequado da anticoagulação. Os grandes sangramentos estão relacionados com a anticoagulação e são mais freqüentes em mulheres (Brist Med J 2001).
Gage et al em estudo com 597 pacientes portadores de fibrilação atrial crônica (FAC) observou que no momento da alta hospitalar 34% dos pacientes tiveram indicação de anticoagulação contra 21% com indicação de aspirina. Os pacientes foram acompanhados no período de 1993 a 1996 e a redução de risco relativo para AVC, TIA e IM foi de 24% para warfarina e de 5% para aspirina. Na conclusão do estudo a baixa utilização de anticoagulante na FAC não valvar se associa com pior prognóstico. O benéfico da warfarin se estende as pessoas debilitadas e idosos, grupos esses excluídos dos estudos controle. O uso de anti-plaquetário merece mais estudos por muito desses pacientes apresentam contra-indicação relativa para anticoagulação (Stroke 2000;31:822-27).
Segundo o Prof. Maurício "na medicina como no amor nunca diga jamais nem nunca diga sempre, ou seja, a anticoagulação em idosos não deve ser contra-indicada somente pela idade."